92 pessoas morrem por dia no Brasil devido à violência no trânsito
Os dados são assustadores. Todos os dias morrem no Brasil mais de 90 pessoas devido a violência no trânsito Por Mariana Czerwonka
Os dados são assustadores. Todos os dias morrem no Brasil mais de 90 pessoas devido a violência no trânsito. Seja como ocupante de veículo, pedestre ou motociclista, basta estar nas ruas e estradas brasileiras para estar em risco. Para se ter uma ideia, é como se caísse um avião por dia no Brasil (no último acidente envolvendo a aeronave da Voepass morreram 62 pessoas). Nenhuma morte por acidente é aceitável, seja no transporte aéreo ou no terrestre, pois a maioria delas são evitáveis.
De acordo com os números oficiais do Ministério da Saúde, em 2022 – último dado disponível- ocorreram 33.894 óbitos em decorrência de sinistros de trânsito. Essa é uma situação preocupante pois desde 2014 as estatísticas de mortes no trânsito mostravam quedas consecutivas ano a ano. No entanto, em 2020 houve uma interrupção nesta tendência. Depois da pandemia, cresceu o número de sinistros nas vias, e consequentemente, também das taxas de mortes causadas por veículos.
A explicação para esse aumento é que diferente de anos anteriores, onde mantinha-se a estabilidade no índice de mortes de cidadãos como ocupantes de veículos e como pedestres, em 2022 houve um aumento do número de mortes nestas posições, além das mortes de motociclistas (e passageiros de moto) que vêm crescendo ano a ano.
Perfil das vítimas
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, os motociclistas foram os que mais perderam a vida nas vias e rodovias do Brasil. Foram 12.058 mortes nessa condição. Em seguida estão os ocupantes de automóveis (7.226) e os pedestres (5.387). A faixa etária mais vulnerável, conforme os dados, está entre 20 e 59 anos.
A maioria das mortes ocorreu na Região Sudeste, na sequência (muito próxima) aparece a Região Nordeste e em terceiro lugar a Região Sul.
Por que os números voltaram a subir?
Para o presidente da ABRAMET/RS, Dr. Ricardo Hegele, especialista em Medicina do Tráfego, de 2014 a 2017 tivemos uma crise econômica e, logo depois, em 2020, veio a pandemia. Em razão destes fatores o número de veículos circulantes diminuiu e, obviamente, houve uma queda nos números da sinistralidade. “Pós pandemia houve uma retomada da mobilidade humana e aumentou novamente o número de pessoas e veículos circulando nas ruas, avenidas e estradas, trazendo novamente aumento da sinistralidade”, explica.
Ele ressalta que os sinistros de trânsito são sensíveis às condições econômicas.
“Com o aquecimento da economia, por exemplo, a questão das entregas também sofreu impacto positivo, com o crescimento do número dos motofretistas (motoboys), pois as pessoas começaram novamente a consumir mais e, consequentemente, o trabalho dos motociclistas nas ruas aumentou com as entregas. No entanto, o fator pressa e a urgência em cumprir horários, prazos e ganhar mais entregando mais, gera uma maior exposição a riscos no trânsito e junto com esta forma de trabalho e mobilidade vem o aumento da sinistralidade”, expõe o especialista.
Conforme o Dr. Hegele, existem ainda outros fatores que precisam ser observados, pois não é só o aumento da frota e da circulação de veículos que leva a sinistralidade. “Nos últimos anos, houve também aumento de infrações por excesso de velocidade, uso do celular ao volante, prejudicando a concentração, além de vários motoristas tendo uma segunda jornada e trabalhando mais horas, acarretando na privação do sono e, como consequência, o crescimento de sinistros por sonolência. Não podemos esquecer também do fator álcool e direção, que continua fazendo tragédias e vítimas fatais no trânsito. Estes fatores contribuem de forma significativa para o aumento da sinistralidade”, pontua.
Para ele, é preciso cuidar do fator humano desta situação, porque quem dirige os veículos e acaba cometendo essas infrações são as pessoas e elas estão se expondo a mais riscos por questões de ansiedade, stress do dia-a-dia e a necessidade das urgências de realizar as coisas.
“A síndrome das urgências acaba gerando uma exposição maior a riscos e a um crescimento da sinistralidade. São fatores complexos que temos que analisar, mas o fator humano é o principal a cuidar e a nos preocupar. É preciso aumentar a conscientização de que a questão comportamental do motorista impacta grandemente, pois quando há desrespeito às leis de trânsito há aumento de sinistros e de mortes”, conclui.